Jogos mecânicos modernos: um upgrade na diversão à mesa - parte 2

Leonardo Porto Passos

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Um gênero de jogo que vem crescendo em popularidade é o RPG, um estilo de jogo com ênfase na narrativa, com características próprias e uma grande legião de jogadores ardorosos. Eles devem interpretar papéis de personagens que geralmente vivem em universos fantásticos (medieval, horror, ficção científica, realidades alternativas etc.) em meio a aventuras dos mais variados tipos. Por meio de uma lista de estatísticas anotadas em uma ficha, é possível saber ao certo o quão inteligente, forte, ágil, carismático etc. é o personagem. Esses valores são a base para os testes com os dados (que podem ter diversos formatos, que geralmente variam entre 4, 6, 8, 10, 12, 20 e 100 lados), e assim é possível verificar se os personagens dos jogadores (PCs - player characters) foram bem-sucedidos ou não nas várias ações que são tomadas ao longo do jogo. Toda a história a ser contada é centralizada por um narrador, também chamado de mestre. É ele quem conduz a história e assume a interpretação dos personagens coadjuvantes (NPCs - non-player characters), ou seja, todos aqueles que interagem com os PCs. Para a condução do jogo, pode-se ou não utilizar mapas e miniaturas. Isso depende do quanto o grupo gosta de enfeitar suas sessões de jogo.

Mas nem só de RPG vive o mercado de jogos de mesa. Um segmento muito forte são os card games, popularizado pelo extremo sucesso do cultuado jogo Magic: The Gathering, publicado pela primeira vez em 1993 pela Wizards of the Coast. De lá para cá, centenas de card games foram publicados nos mais variados temas.

Porém, com o tremendo sucesso do Magic: The Gatrhering, centenas de card games  invadiram o mercado para tentar abocanhar uma fatia da carteira dos ávidos jogadores, que também se tornaram colecionadores. Todos esses jogos tinham como característica serem colecionáveis, com cartas poderosíssimas, ultrarraras e, consequentemente, bastante caras. A especulação no mercado negro de cartas explodiu e verdadeiros absurdos começaram a ser praticados. Para que um baralho fosse altamente competitivo, era necessário gastar uma boa quantia em dinheiro, valor este que facilmente chega a quatro dígitos. Assim, muita gente acabou desistindo dos cards games colecionáveis, também conhecidos como TCG - trading card games ou CCG - collectibles card games, por conta dos altos gastos e da necessidade de constante atualização, o que só aumenta ainda mais os custos.

Para amenizar a situação e tornar mais viáveis os seus card games, a empresa norte-americana Fantasy Flight Games criou um novo modelo de comercialização de seus jogos de cartas. A editora lançou o novo conceito de living card game - LCG, jogos que são vendidos em caixas que trazem sempre o mesmo conteúdo, suficiente para se montar dois ou três decks e sair jogando. Não existem as caríssimas cartas super-raras que são indispensáveis para se montar baralhos altamente competitivos. E de tempos em tempos, são lançadas expansões temáticas para quem deseja aumentar as possibilidades do core set inicial. Já os CCGs geralmente são vendidos em decks pré-construídos, prontos para jogar e cujo conteúdo exato é possível saber antes da compra, e em boosters com quinze cartas aleatórias, sendo onze cartas comuns, três incomuns e apenas uma rara. E é nos boosters que estão os cards mais cobiçados, o que contribui para a especulação em cima das cartas mais difíceis de se encontrar.

Com o novo formato de distribuição de card games, muitas editoras passaram a seguir os passos da Fantasy Flight (que tem, entre outros, os excelentes Star Wars, Netrunner, Call of Cthulhu, Guerra dos Tronos e Senhor dos Anéis), para evitar afugentar novos jogadores que não estão dispostos a gastar pequenas fortunas com um deck.

Mas além dos jogos de interpretação e dos jogos de cartas, há também um segmento muito apreciado por jogadores de todo o mundo, que são os board games, ou jogos de tabuleiro, como os conhecemos por aqui. São jogos que utilizam peças e marcadores movidos sobre uma superfície demarcada de acordo com um conjunto próprio de regras. São baseados em estratégia, acaso ou uma mistura de ambos, o que é mais comum, com objetivos que os jogadores precisam alcançar. Existem jogos de vários tipos, em que duas pessoas duelam, aqueles em que as pessoas jogam em grupo para ver quem é o melhor, há também jogos cooperativos, em grupo ou em duplas, e existem ainda jogos para serem jogados sozinho, nos quais o jogador precisa derrotar o sistema do jogo. Em qualquer um deles, o vencedor pode ser declarado de acordo com diferentes tipos de mensuração, como aquisição de recursos, conquista de uma posição, acúmulo de pontos ou a simples eliminação dos adversários.

Há também os miniature games, também chamados de wargames, com lindas miniaturas e cenários que possuem terrenos com diferentes características. São jogos geralmente orientados à simulação de batalhas, sejam os conflitos fictícios dos super-heróis, dos filmes, da literatura e dos animes, ou simulação de episódios bélicos históricos, como as principais batalhas da Primeira e Segunda Guerra Mundial.

Por fim, há também os dice games, que, como o próprio nome sugere, são baseados em rolagem de dados. Porém, não são jogos puramente aleatórios em que o acaso impera. Sorte nunca é demais, é claro. Mas o que realmente conta é compor uma estratégia e criar combos com os recursos disponíveis. Geralmente os dados são bonitos e colecionáveis, vendidos em boosters ou em decks, geralmente acompanhados por cartas que especificam os atributos de cada dado.

Com tantas opções, os jogadores têm à disposição uma ampla gama de jogos mecânicos para os momentos de diversão, assim como os game designers têm ao alcance uma miríade de mecânicas, narrativas e estéticas que podem servir de inspiração no desenvolvimento de games.


Referências:

BOWN, Alfie. Política, desejos e videogames: The Playstation Dreamworld. Tradução Alexandre Matias. São Paulo: Edições Sesc, 2021.

GO GAMERS. Pesquisa Game Brasil 2022: report gratuito. São Paulo: SX Group, 2022. Disponível em: <http://www.pesquisagamebrasil.com.br/pt/edicao-gratuita/>. Acesso em: 22 abr. 2022.

SOUSA, Micael; BERNARDO, Edgar. Back in the game: modern board games. In: ZAGALO, Nelson et al. (Eds.). Videogame Sciences and Arts, VJ 2019, Communications in Computer and Information Science, v. 1164. Springer, p. 72-85. DOI: <https://doi.org/10.1007/978-3-030-37983-4_6>.

WICKISON, Daniel. Modern board games: and why you should play them. BoardGameGeek, Sweepings, 31 jan. 2022. Disponível em: <http://boardgamegeek.com/blogpost/124992/modern-board-games-and-why-you-should-play-them>. Acesso em: 19 set. 2022.


Como referenciar este artigo:

PASSOS, Leonardo Porto. Jogos mecânicos modernos: um upgrade na diversão à mesa – parte 2. Blog C4, Campinas: Nics; Unicamp, 17 out. 2022. ISSN: 2764-5754. Disponível em: <http://unicampc4.blogspot.com/2022/10/jogos-mecanicos-modernos-2.html>.